Recomendações para combater a corrupção: do Índice de Perceção da Corrupção 2023

Descubra as seis recomendações do Índice de Perceção da Corrupção 2023 para combater a corrupção e promover a justiça, a transparência e a responsabilização.

Recomendações para combater a corrupção: do Índice de Perceção da Corrupção 2023

Na batalha contra a corrupção, é imperativa uma abordagem multifacetada que reforce a justiça, defenda o Estado de direito e garanta a responsabilização. O Índice de Perceção da Corrupção (IPC) 2023 da Transparência Internacional, divulgado a 30 de janeiro de 2024, serve de referência crucial para compreender o panorama global da corrupção e a eficácia das medidas para a combater. Ao avaliar 180 países, este índice sublinha a intrincada relação entre a corrupção, o declínio da justiça e o Estado de direito desde 2016, destacando uma tendência preocupante para a impunidade e práticas de governação autoritárias.

O IPC 2023 revela que 28 países melhoraram os seus níveis de corrupção nos últimos doze anos, enquanto 34 se deterioraram significativamente. Esta estagnação indica os desafios sistémicos que os sistemas de justiça enfrentam em todo o mundo - falta de recursos, falta de independência e incapacidade de processar e julgar eficazmente os casos de corrupção. O aumento da grande corrupção, um abuso de poder de alto nível que causa danos sociais generalizados, enfatiza a urgência da preocupação e ação internacionais.

CPI2023_The perceived levels of public sector corruption in 180 countries/territories around the world.

As conclusões do IPC 2023 lançam luz sobre o estado da corrupção a nível mundial e o papel essencial que os sistemas de justiça desempenham na sua prevenção e resolução. Como o relatório detalha, a corrupção floresce onde os sistemas de justiça são fracos ou comprometidos e, inversamente, onde a corrupção é galopante, o acesso à justiça para os mais vulneráveis é obstruído. Esta introdução serve como um apelo à ação para fortalecer os mecanismos de justiça e o Estado de direito como pilares fundamentais de uma sociedade democrática, justa e responsável. Ao fazê-lo, salienta a necessidade crítica de cooperação global na luta contra a corrupção, enfatizando que a melhoria da independência, transparência e eficácia dos sistemas de justiça em todo o mundo não é apenas um investimento no Estado de direito, mas uma pedra angular na busca de um mundo justo, equitativo e livre de corrupção.

Vamos analisar as seis recomendações do relatório CPI 2023 para os governos que procuram combater a corrupção, promover a justiça e reforçar o Estado de direito. 

1. Reforçar a independência do sistema judicial

Proteger o sistema judicial de interferências é fundamental para o seu funcionamento. Promover nomeações baseadas no mérito, em vez de nomeações políticas, e garantir que o sistema tenha pessoal qualificado e disponha de recursos adequados.

2. Introduzir mecanismos de integridade e de controlo

Assegurar que as protecções especiais de que os membros do sistema judicial necessitam para desempenhar as suas funções não sejam utilizadas de forma abusiva. Os abusos podem ser evitados através de canais específicos de denúncia e de comunicação, bem como através da exigência de que os juízes, procuradores e outros intervenientes relevantes revelem os seus bens e interesses e assegurem que os salários sejam proporcionais ao seu trabalho.

3. Melhorar o acesso à justiça

A proteção do direito de acesso à justiça é um primeiro passo contra a impunidade e a corrupção. As estratégias para atingir este objetivo incluem a simplificação de procedimentos complexos, tornando os procedimentos legais acessíveis a todos, alargando a definição de vítimas de corrupção de modo a incluir vítimas não estatais e concedendo a organizações da sociedade civil (OSC) qualificadas o direito de iniciar e apresentar casos de corrupção - quer sejam criminais, civis ou administrativos - e de representar os interesses das vítimas de corrupção.

4. Tornar a justiça mais transparente

A transparência pode ajudar a esclarecer o funcionamento do sistema judicial e a torná-lo mais responsável. Assegurar que os dados relevantes sobre as decisões judiciais, as transacções extrajudiciais e a execução, bem como os procedimentos legais e as regras administrativas, estejam disponíveis abertamente e possam ser examinados por membros do público. Tal poderá contribuir para desencorajar a corrupção e garantir que as leis contra a corrupção sejam corretamente aplicadas e administradas.

5. Promover a cooperação no âmbito do sistema judicial

Os sistemas de justiça são complexos, mas é essencial garantir que as suas diferentes componentes possam colaborar efetivamente. A definição de responsabilidades claras e complementares é fundamental para alcançar este objetivo. Dada a utilização generalizada de sistemas de justiça informais em algumas regiões, refletir sobre as potenciais sinergias entre os sistemas formais e informais pode também revelar-se benéfico.

6. Alargar as vias de responsabilização em casos de grande corrupção

Nos casos em que os grandes esquemas de corrupção são levados a cabo em países com sistemas de justiça que "não querem ou não podem" aplicar sanções contra os infractores, as instituições de justiça em jurisdições estrangeiras com um Estado de direito mais forte podem desempenhar um papel crucial na luta contra a impunidade, tratando dos processos de grande corrupção. Para tal, é necessário que esses países estrangeiros adoptem medidas processuais fundamentais, tais como uma jurisdição alargada, imunidades mínimas para os funcionários públicos estrangeiros, a possibilidade de as organizações da sociedade civil de interesse público qualificadas poderem prosseguir com esses processos e representar as vítimas, e uma definição alargada de dano justificável que englobe o dano generalizado a um grande número de vítimas.